Os dez mandamentos para desenvolver a atenção plena: Atenção plena, Videoconferência por Lwiis Saliba no Zoom, julho de 2024
1-Lentidão: tudo o que você faz em sua vida diária, faça-o mais lentamente. A meditação e a vida meditativa são uma Clínica da Lentidão, disse Tich Nhat Hanh (1926-2022).
A era da velocidade em que vivemos é uma das maiores distrações. Temos a ilusão de que, se fizermos as coisas mais rapidamente, conseguiremos fazer mais, quando é exatamente o contrário.
2 – Fale menos: Se palavras são dinheiro, o silêncio é ouro, diz um provérbio árabe. Mantenha horas de silêncio durante o dia: isso é o que a maioria dos sábios recomenda, como não falar por uma ou duas horas antes de ir para a cama, o que acalma a mente e prepara para um sono profundo e restaurador.
Há um fator cansativo e até mesmo exaustivo em nossa vida ao qual raramente prestamos atenção, que é o telefone. A situação é ainda pior com o telefone celular, e as estatísticas mostram que o ocidental passa de três a cinco horas por dia ao telefone, o que é um mau hábito que esgota os nervos.
O conselho de Swami Vijayananda sobre esse assunto continua sendo fundamental: economize sua energia.
3-Não divida sua atenção, ou seja, não faça duas coisas ao mesmo tempo. Na psicologia espiritual budista, diz-se que a mente não pode ter dois pensamentos ao mesmo tempo. Portanto, se você fizer duas coisas ao mesmo tempo, estará, de certa forma, violando as leis da natureza.
Lembro-me de que um dia, depois de passar duas semanas no santuário de Ma Ananda Mayi em Khankal, Índia, fui ver meu mestre Swami Vijayananda para me despedir e lhe disse: “Aconselhe-me”. Ele respondeu de forma simples e literal: “Não divida sua atenção”, e esse talvez tenha sido o último mandamento que ele me deu.
4 – Fique atento à sua respiração em sua atividade diária: Tich Nath Hanh nos aconselha a nos apaixonarmos por sua respiração. Mas por que Hanh nos aconselha a nos apaixonarmos por nossa respiração? Automaticamente prestamos atenção àqueles que amamos e às coisas e criaturas que amamos. No cristianismo, dizemos que amor é atenção, portanto, se amarmos nossa respiração, automaticamente prestaremos atenção a ela.
Hallaj, por outro lado, canta: Por Deus: nenhum sol nasce ou se põe sem que seu amor esteja associado a cada uma de minhas respirações.
Thich Nhat Hanh nos aconselha a nos apaixonarmos por nossa respiração, e Al-Hallaj se apaixonou pelo Haqq (verdade, Deus) por meio de sua respiração e com ela, como se essa experiência mística fosse a mesma, com diferentes expressões.
5-Relaxamento: Ananda disse após a morte do Buda: “O amigo (Sariputra) morreu, o Mestre se foi, e tudo o que nos resta como Mestre é a atenção voltada para o corpo”.
Qual é a razão de voltarmos nossa atenção para o corpo? Qualquer emoção (especialmente uma negativa) é expressa pela tensão do corpo. Então, relaxamos a parte tensa para apagar o impacto negativo da emoção e recuperar nossa atenção.
Um sábio budista disse certa vez: há apenas um mantra no budismo, que é: Deixe ir.
6 – Considere os eventos diários repentinos ou urgentes como um sino que exige atenção renovada.
Em vez de esses eventos serem uma distração, como o telefone tocando, uma batida na porta, etc., faça deles um sino que o alerte. Faça deles um sino que o alerte e o chame de volta para o que estava fazendo.
7 – Faça de cada refeição do dia uma oportunidade para recuperar e redirecionar sua atenção.
Nunca coma enquanto estiver fazendo outra coisa: assistindo à TV, falando ao telefone, etc. E deixe que cada uma de suas refeições seja um festival de atenção e concentração. Muitas vezes comemos sem saborear. O primeiro ensinamento de Gautama Buda após atingir a iluminação foi ensinar às crianças que lhe traziam comida durante o longo período de meditação como comer uma tangerina com plena consciência. Swami Vijayananda, o médico inteligente, costumava nos dizer que cada refeição que faço é como estar na sala de cirurgia de um hospital, e é bem sabido que a cirurgia exige atenção total do cirurgião, pois qualquer distração de sua parte pode matar o paciente!
8-Simplifique sua vida, abra mão de pequenos prazeres para obter maior satisfação.
O sábio Swami Chidananda sempre recomendou uma vida simples. Ele acrescentou: A vida espiritual só pode ser vivida com o mínimo de necessidades possíveis.
Pare de reclamar sobre os eventos e o que está acontecendo em termos políticos, sociais, econômicos e outros, e tente sempre acompanhar os acontecimentos atuais e os novos desenvolvimentos com certa neutralidade, e não faça com que acompanhar e ouvir as notícias seja uma distração que provoque emoção e negatividade.
A maioria das pessoas acha que para desenvolver a atenção e a concentração basta tomar um comprimido de manhã e à noite. Lembro-me de uma de minhas alunas na universidade que sofria de distração constante e incapacidade de se concentrar. Ela sempre me procurava para pedir ajuda, achando que eu poderia simplesmente prescrever um exercício, alimento ou medicamento para melhorar sua atenção. Tentei, em vão, explicar-lhe que se tratava de uma questão de etiqueta de vida em geral e que ela não conseguiria recuperar a concentração se sua vida diária fosse repleta de distrações de todos os tipos! Quando desisti de tentar convencê-la, um dia eu lhe disse: “Pare de usar saias curtas e sua atenção vai melhorar! Esse conselho não era apenas uma piada. Modéstia é sabedoria, diz o provérbio libanês, e se instintivamente e cobiçosamente atraímos a atenção dos outros, é natural que nosso nível de concentração e atenção diminua.
Nosso professor de meditação, Robert Kfoury, costumava nos dizer: Observe sua vida diária e reduza as distrações para que sua atenção melhore durante a meditação. Ficamos surpresos com esse conselho, pois esperávamos que a prática da meditação melhorasse nossa atenção e concentração na vida cotidiana, e não o contrário!
9 – De modo geral, para melhorar a atenção, você pode usar a intenção: ficar acordado e alerta, acalmar a mente e permanecer como a própria consciência.
10 – Lembre-se de que a atenção plena leva à sabedoria, e a meditação é a melhor maneira de desenvolvê-la.
Você deve perceber que o que atrai sua atenção esculpe sua mente e que, consequentemente, ajustar sua atenção pode ser a maneira mais eficaz de moldar seu cérebro e, portanto, sua mente.
O budismo fala sobre os cinco fatores tradicionais que estabilizam a mente: atenção aplicada, atenção sustentada, êxtase, alegria e unidade da mente.
E o psicólogo e psiquiatra americano William James (1842-1910) disse: “Uma educação em atenção seria a educação por excelência”.